quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A Violeta...

Há mulheres que nos marcam mesmo sem darmos por isso, aliás só nos apercebemos da sua importância, ou o quanto poderiam ter sido importantes, com a distancia - o tempo é estranho, amplifica insignificâncias do passado e simultaneamente pode atenuar outros acontecimentos a que demos muita importância -, essas mulheres que nos marcam e que vamos recordando ao longo da vida, serão aquelas que de facto nos amaram? E só à distância nos apercebemos desse amor? E as outras, que amamos intensamente e que após o adeus se esfumam na neblina do tempo e nunca mais pensamos nelas, como se todo o amor que tivemos se tivesse consumido e nada mais restasse.
Passaram muitas mulheres pela minha vida, algumas foram ficando outras perdi o contacto, lembro-me de todas mas sempre tive a capacidade de seguir em frente sem me deter a olhar para trás. Fazendo uma retrospectiva só de duas ou três sinto alguma nostalgia, curiosamente daquelas que na altura me foi mais fácil desligar.
Falo da Violeta, em particular, que conheci quando ela tinha 18 anos e voltei a reencontrar recentemente. Neste hiato de tempo em que não nos vimos pensei nela mais do que era suposto, visto na altura não lhe ter dado a importância que de certo, e o tempo diria, merecia.
Conheci a Violeta no Saldanha, numa paragem de Autocarro, ela estava sozinha e eu ia acompanhado por um amigo, achamos piada a miúda que se procurava abrigar da chuva sob um guarda-chuva completamente desarticulado. Metemos conversa, estávamos os dois em disputa como sempre, e apesar de não utilizar aquele autocarro segui com ela até Benfica onde tomamos um café numa pastelaria junto á estação, depois acompanhei-a até ao comboio despedimo-nos com um beijo apaixonado e com a promessa de nos encontrarmos no dia seguinte, sábado, em Sintra.
Estivemos juntos nesse sábado em Sintra e durante o ano que se seguiu mantivemos um relação indefinida, apesar de ela me ter apresentado á família e criarmos amigos comuns, nunca a definimos. Da minha parte porque me convinha, sempre prezei muito a minha liberdade, da sua parte porque, eventualmente, esperasse que eu o fizesse.
- Fizeste-me mulher. Dizia ela emocionada no dia em que pela primeira vez fizemos amor.
O que mais recordo desse dia, e que permaneceu na minha memória até hoje, é o cheiro do seu cabelo. Alias, o seu cabelo cor de caju era lindo e sempre a cheirar a timotei ervas. Fecho os olhos e sinto o seu cheiro e imagino-me a acariciá-lo sob os reflexos dourados do sol de Setembro, mês em que a conheci.
Durante esse ano, sempre que podia, esperava por ela às 18 horas na mesma paragem de autocarro onde nos conhecemos, ficávamos a namorar onde podíamos… depois leva-a a casa. Sem saber bem porquê deixei de aparecer, passaram uns meses até voltar a vê-la, um dia cruzamo-nos por acaso. Ela ia com uma amiga e eu com a Maria, a minha namorada na altura, sorrimos e cumprimentamo-nos sem no determos.
Passados alguns anos soube que tinha casado, desejei-lhe sinceras felicidades, ela merecia e não pensei mais nela até me cruzar com ela recentemente.
- Olá André. Disse ela com um grande sorriso no rosto.
Aquele sorriso, franco e aberto, trouxe-me de volta a Violeta que eu conhecera e os momentos que vivemos.
- Olá! Respondi enquanto trocávamos dois beijos.
Encontramos-nos por acaso no centro comercial que fica por baixo onde prédio onde trabalho.
- Tu por aqui? Há quanto tempo? Disse enquanto, inexplicavelmente, a abraçava.
- Almoço. Alias, vou almoçar. Respondeu.
- Almoço aqui todos os dias com as minhas colegas. Acrescentou apontando para um grupo que estava sentado numas mesas mais á frente.
- Aqui? Todos os dias… Repeti, ainda surpreso.
- Sim, trabalho num colégio aqui perto. E tu? Respondeu.
- Eu trabalho aqui, quer dizer por cima. Trabalhas num colégio? Perguntei.
- Sim, estava a estudar para educadora de infância, ainda te lembras? Sorriu.
- Acho que já te tinha visto por aqui, mas fiquei na dúvida, pelo cabelo rapado… Acrescentou.
- Claro que me lembro, disso e de outras coisas. Devolvi o sorriso e não deixei de reparar que ela tinha ficado ligeiramente corada.
Eu estava de saída e ela já tinha as colegas a reclamar pela sua presença, assim combinamos almoçar com calma no dia seguinte.
Pensei nela resto do dia, ansiando pelo nosso almoço, estava mais linda do que nunca. Mais mulher, mais sedutora e segura de si do que à dez anos atrás, naquele momento desejei que ela tivesse sido só minha naqueles dez anos.
No dia seguinte, com o meu melhor fato, á hora combinada esperei por ela no andar da restauração, quando ela surgiu, vê-la ao longe a dirigir-se para mim naquele andar sedutor que lhe realça as belas curvas, fez disparar o meu coração.
- Olá André! Disse ela radiante.
- Olá minha Flor. Respondi sorrindo, na verdade ela parecia uma flor, uma bela violeta, cultivada a céu aberto e com muito amor.
- Só tu me tratas assim, ainda sou a tua flor? Respondeu com um magnífico sorriso.
- Serás sempre… Disse.
Durante o almoço, em que ficou visível o enorme carinho que ainda existia entre nós, falamos abertamente sobre a nossa vida, o que nos tinha separado, do seu casamento e separação e falamos também da Carolina, a sua filha de cinco anos.
- Estou separada à três anos e só tenho vivido para ela, é o meu amor! Disse emocionada enquanto me mostrava as fotos dela.
Nesse dia, á noite, quando me preparava para deitar recebi uma sms dela:
- Adorei o almoço. Dizia.
- Eu também, anseio pelo próximo… Respondi.
Passado alguns minutos a resposta:
- Janta comigo na sexta, a Carolina fica com a avó. Dizia
- Combinado! Beijo. Respondi.

Sexta-feira a hora combinada estacionei o carro em frente a sua casa e toquei a campainha.
- És tu? André… Disse ela.
- Sim. Respondi.
- Já vou, beijinho. Disse.
Ela estava linda, com um vestido grená muito justo e decotado quanto baste, realçando na medida justa o seu belo peito e a perfeição da suas curvas.
- Estás linda! Valeu a pena esperar. Disse sorrindo enquanto abria a porta do carro para ela.
- Sempre cavalheiro. Respondeu a sorrir.
- A onde me levas? Acrescentou.
- A um sitio que ambos gostamos e que nos trás boas recordações, Restaurante Nortada. Disse enquanto punha o carro em funcionamento, o destino era a Praia Grande em Sintra.

Continua…

3 comentários:

Rute disse...

És mais lindo ainda qd te deixas levar pelo coração

Anónimo disse...

vim aqui para de paraquedas (lol) e tive a ler o teu blog, numa palavra: FANTÁSTICO!
escreves duma forma arrebatadora mesmo sendo a maioria dos post sobre sexo, ou não fosse um diario intinmo, acrescentas sempre algo mais.
ex quando escreves: "No fundo que somos nós senão o resultado de emoções que vamos coleccionado ao longo da vida. Da aurora até ao crepúsculo. Renascendo todos os dias..."
fanástico! na minha opinião esta ao nivel dos melhores escritores.
continua a escrever e se me permites, tens capacidade para escrever outras coisas mais serias.

1 abraço
João

Anónimo disse...

Well, para contador de histórias tens jeito.